Por Edson Bambo
É melhor se conformar: quase nenhuma criança atravessa a infância livre de crises alérgicas, dor de garganta, de ouvido ou outras doenças típicas dessa fase. Saiba quais são as mais frequentes e como agir para proteger seu filho
Dentro do útero, o
bebê não entra em contato com vírus e bactérias. Portanto, seu
organismo desconhece esses agentes. Entretanto, quando ele vem ao mundo,
abandonando o abrigo uterino, fica à mercê desses micro-organismos. É por
isso que problemas como otite, dor de garganta e outros quadros
infecciosos afetam as crianças. Na tentativa de se fortalecer e
equilibrar, a imunidade também pode reagir
de forma exagerada a fatores aparentemente inofensivos – do pólen das
flores a alimentos. O resultado é uma alergia daquelas, cuja manifestação
normalmente ocorre no sistema respiratório ou na pele.
Para superar essa
fase sem tanto transtorno, o segredo é ter muita paciência e adotar certos
hábitos. O parto normal é a primeira contribuição que
você pode dar à saúde do seu filho, pois o contato dele com as
bactérias do canal vaginal ajuda a desenvolver resistência. Amamentar
também é fundamental. Por meio do leite, a mãe transfere
substâncias que atuam como anticorpos no organismo da criança. É por
esse motivo que o aleitamento deve ser exclusivo até os 6 meses e
complementar até os 2 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
O terceiro passo é
caprichar na introdução alimentar, incluindo
frutas, hortaliças, carnes e leguminosas no cardápio infantil, a partir do
segundo semestre de vida. Assim, você garante energia, vitaminas e
minerais. Por fim, ensinar seu filho a lavar bem as mãos – especialmente
ao chegar da rua, depois de brincar ou de usar o banheiro, e antes das
refeições – ajuda a mantê-lo livre de vírus e bactérias. Mesmo com
tanto cuidado, é possível que um problema ou outro surja de vez em quando,
especialmente quando seu filho frequentar a escola e entrar em
contato com outras crianças. CRESCER levantou, com a Sociedade de
Pediatria de São Paulo, as doenças mais comuns nos primeiros anos e
agrupou-as em sete blocos. Veja como contorná-las.
ALERGIAS
Três por cento das crianças sofrem com
quadros alérgicos, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Os de
origem alimentar são normalmente provocados por alguma proteína,
conservante ou corante, causando dores abdominais, coceira, erupções na
pele e até dificuldade respiratória. Leite de vaca, clara de ovo, soja,
trigo e peixe encabeçam a lista dos ingredientes causadores desses
episódios. A alergia ao primeiro é a mais comum na infância e pode
apresentar sangue nas fezes como sintoma adicional. O tratamento
consiste em retirar da dieta o alimento. Em fase de amamentação, pode
ser necessário excluir o item da alimentação materna, já que ele pode
passar para o bebê por meio do leite.
Quando se trata de alergia respiratória, ela pode se manifestar tanto
como rinite, caracterizada por coriza, espirros e congestão nasal, quanto
em forma de asma, quando acomete os brônquios, ocasionando dificuldade
respiratória, chiado no peito e tosse, entre outras
complicações. Os agentes promotores dessas crises variam de uma criança
para outra, mas, entre os principais, estão os ácaros, presentes em
roupas e cobertores, o pólen das flores, a poeira e os pelos de
animais. A estratégia de prevenção também consiste em manter a
criança longe do gatilho. Por isso, deixe o ambiente sempre limpo e
arejado, evitando bichos de pelúcia e outros objetos que possam acumular
poeira no quarto do seu filho. Um especialista irá orientar o tratamento
com remédios, sejam para os momentos de crise, sejam para uso contínuo.
Picadas de inseto também têm potencial de desencadear alergia, com coceira
e vermelhidão, que duram até dez dias. O pediatra pode prescrever um
tratamento com anti-histamínicos.
INFECÇÃO NO OUVIDO
A chamada otite
média surge quando há acúmulo de secreção no canal auditivo,
devido a gripes e resfriados, ou do próprio leite, que pode escoar ao
amamentar com o bebê na horizontal, tornando o ambiente propício à
proliferação de bactérias. Em geral, o problema se manifesta pelo menos
uma vez até os 5 anos e pode exigir tratamento com antibióticos. No caso
dos bebês, é fundamental ficar atento a sinais como choro intenso e febre. Existe ainda um quadro mais
brando, a otite externa, que geralmente ocorre por excesso de
umidade. Secar bem os ouvidos com uma toalha, após o contato com água, é a
melhor forma de diminuir a ocorrência – o uso de cotonetes é
contraindicado, porque eles empurram a cera para os tímpanos e
diminuem a proteção do conduto auditivo.
INFECÇÃO NA GARGANTA
Falta de apetite e febre alta, em
geral, caracterizam as infecções de faringe e amídalas, causadas por vírus
ou bactérias. O tipo viral ocorre com maior frequência até os 2 anos e é
comum haver três episódios por ano – o contágio se dá por contato com
saliva infectada e outras secreções. A dor incomoda por três dias e o
tratamento, com analgésicos e antitérmicos, visa o alívio dos sintomas até que
a doença regrida espontaneamente. Já as bactérias desencadeiam um quadro
intenso, comum entre 3 e 6 anos, que requer uso de antibióticos. Mas
atenção: é preciso seguir à risca a duração, os intervalos e as doses do
remédio, caso contrário, os micro-organismos podem se tornar resistentes.
Episódios muito recorrentes podem exigir uma cirurgia de extração das
amídalas.
CONTAMINAÇÕES
Vírus, bactérias ou
parasitas, presentes em água ou alimentos contaminados, podem invadir o
organismo e provocar vômito, flatulência, diarreia e dores abdominais. Embora
pareça algo corriqueiro, a diarreia está entre as principais
causas de morte infantil no Brasil, em decorrência da desnutrição e
da desidratação, resultantes dos quadros mais
graves. Fundamental em todos os casos, o tratamento inclui a ingestão de
50 a 100 mililitros de soro caseiro por dia (para um litro de água,
adicione 3,5 gramas de sal e 20 g de açúcar) e um cardápio rico em
alimentos de fácil digestão, como legumes, verduras e frutas. O leite materno ajuda na recuperação.
CATAPORA, CAXUMBA...
... rubéola,
sarampo... Causadas por vírus, essas doenças são transmitidas por meio da
saliva e levam de 5 a 14 dias para entrar em remissão espontânea. O
tratamento consiste no alívio dos sintomas, com analgésicos e
antitérmicos, e na prevenção de complicações – como a pneumonia, no
caso do sarampo. Todas são passíveis de prevenção com a mesma vacina,
chamada de tetra viral, aplicada em dose única, aos 15 meses
de vida. Cada problema tem suas particularidades, mas sintomas como febre,
prostração, manchas no corpo, tosse, coriza e falta de apetitedevem
ser relatados o quanto antes ao pediatra. Se houver contágio, restrinja o
contato com outras crianças para prevenir a transmissão. Nesse caso,
ofereça ao seu filho bastante água, hortaliças e frutas para aumentar sua
resistência. O repouso também é essencial. Outro alerta é que a mãe pode
transmitir rubéola ao bebê no primeiro trimestre de gestação. Por isso,
mulheres que pretendem engravidar devem fazer exames para detectar se
são imunes ao problema. Se não, precisam tomar vacina.
REFLUXO
O refluxo, frequente no primeiro ano de
vida, não está relacionado à imaturidade do sistema imunológico, mas do
digestivo. Ele ocorre quando o alimento chega ao estômago e volta
para o esôfago. Nos primeiros meses, o fato de a criança ingerir apenas
líquidos intensifica esse retorno. A boa notícia é que o problema tende a
diminuir à medida que ingredientes sólidos forem incluídos no cardápio.
Uma dica para amenizar o desconforto é amamentar em posição vertical e não
exagerar na quantidade de leite. Colocar o bebê para arrotar em pé no
colo, por cerca de 20 minutos, também facilita a digestão. Quadros severos
podem exigir o uso de medicamentos.
GRIPE E RESFRIADO
Apesar de parecidos,
gripe e resfriado têm características diferentes e são causados por vírus
distintos. Nos dois casos, a principal forma de contágio é a saliva,
eliminada durante tosses e espirros. O resfriado costuma ser mais brando, com
coriza e irritação das mucosas. Já o pacote da gripe inclui
febre, dor muscular e cansaço. Nas duas situações, o tratamento serve
para aliviar os sintomas, uma vez que o problema regride automaticamente.
Manter a hidratação, com chás, água e sucos, acelera a recuperação. Para
prevenir os quadros gripais, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
recomenda a vacinação a partir dos 6 meses. A bronquiolite, uma infecção nos
bronquíolos, também é comum em bebês prematuros e crianças de até 2 anos.
Causada principalmente pelo vírus sincicial respiratório (VSR),
promove febre, dificuldades para respirar, tosse e chiados no peito. Em
casos graves, requer internação hospitalar. A forma de contágio é a mesma
da gripe. Por isso, evite levar a criança a locais com aglomeração
de pessoas ou outros bebês doentes. De acordo com a SBP,
prematuros devem receber aplicações mensais de palivizumabe, um
remédio à base de anticorpos, que evita a infecção pelo VSR, especialmente
perigosa para essas crianças.
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